Too Good To Go BlogUm café com... APED


Na Too Good To Go acreditamos que o combate ao desperdício alimentar exige ação coletiva, compromisso e partilha de conhecimento. É por isso que faz todo o sentido tomarmos um café com a APED (Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição), através da sua Diretora de Sustentabilidade, Cristina Câmara, uma voz fundamental no setor do retalho e da distribuição em Portugal.
Nesta conversa, exploramos como a APED integra a redução do desperdício na sua missão, quais os desafios que identifica para o futuro e de que forma iniciativas conjuntas — como a 1.ª Jornada para a Promoção da Redução do Desperdício Alimentar — podem acelerar esta mudança tão necessária.
1.- A APED desempenha um papel importante na promoção da sustentabilidade e na redução do desperdício alimentar. De que forma este tema se integra na missão e nas prioridades estratégicas da associação?
Mais do que uma necessidade, a sustentabilidade e o combate ao desperdício alimentar são hoje uma inevitabilidade, estando no centro da atividade do Retalho e da Distribuição, setores que têm dado um dos maiores contributos para a criação de uma economia mais circular. A APED e os seus Associados reconhecem que este é um caminho longo e desafiante, pelo que têm como prioridade diária refletir sobre estratégias que permitam maximizar este esforço.
Neste âmbito, a cooperação entre empresas, organizações e sociedade civil é fundamental, sendo este um dos princípios que pautam a atuação da APED. Com base neste princípio, foi implementado o Roteiro para a Descarbonização, um compromisso coletivo que visa a descarbonização das atividades do setor até 2040, num esforço contínuo de contribuir para um ecossistema favorável à transição energética e climática.
Esta é apenas uma das faces mais visíveis do compromisso que a APED e os seus Associados assumem diariamente com a sustentabilidade. Queremos reforçar cada vez mais o posicionamento do setor na linha da frente das melhores práticas e, nesse sentido, a APED associa-se a diversas iniciativas, promovendo também as suas próprias, desde campanhas informativas até à dinamização de visitas de decisores e entidades relevantes a espaços de Associados, com o intuito de dar a conhecer o importante caminho já percorrido neste âmbito.
Os desafios são diversos, nomeadamente a nível regulatório, pelo que, também nesta vertente, a APED empenha todos os seus esforços em defender soluções que acomodem simultaneamente a preservação do planeta, a experiência e visão dos seus Associados e as necessidades dos consumidores.
2.- O desperdício alimentar é um desafio transversal em toda a cadeia de valor, desde a produção primária até à indústria, ao comércio e aos lares. Na perspetiva da APED, quais são os pontos mais críticos e onde considera possível ter maior impacto?
O setor do Retalho e da Distribuição tem dado passos significativos para reduzir o desperdício gerado nas suas operações e para influenciar positivamente fornecedores e consumidores na adoção de boas práticas. Ainda assim, persiste a necessidade de eliminar obstáculos à doação de alimentos, nomeadamente no enquadramento fiscal, no processo de recolha e nos procedimentos administrativos que lhe estão associados, desafios que a APED identificou no position paper divulgado em setembro do ano passado, intitulado Contributo da Distribuição no Combate ao Desperdício Alimentar: Boas Práticas, Desafios e Oportunidades.
É fundamental simplificar processos, flexibilizar restrições fiscais, fornecer orientações claras sobre a elegibilidade dos produtos alimentares e promover a capacitação das entidades recetoras. A implementação de medidas que aumentem a eficiência na recolha dos excedentes alimentares, como a colaboração com entidades intermediárias para maximizar as doações, é outra das propostas apresentadas.
Consideramos ainda que existem oportunidades para melhorar a eficácia do processo de doação de excedentes alimentares. A falta de meios e de equipamentos adequados ao acondicionamento e transporte dos produtos, bem como a escassez de voluntários, sobretudo fora dos grandes centros urbanos, constitui outro desafio. Destacamos igualmente a complexidade e a pouca celeridade dos procedimentos administrativos envolvidos nos processos de doação, incluindo a documentação e o controlo da rastreabilidade, que acabam por criar constrangimentos na disponibilidade dos produtos a serem doados.
3.- Um dos grandes desafios identificados está no enquadramento legislativo e fiscal. Que alterações considera essenciais para acelerar a redução do desperdício alimentar em Portugal?
A nível legislativo, por exemplo, a flexibilização de alguns critérios poderia potenciar as doações, sobretudo a instituições de apoio a animais, em especial no caso de alimentos já não adequados ao consumo humano.
Por sua vez, do ponto de vista fiscal, as doações estão atualmente limitadas a instituições e entidades públicas que cumpram um conjunto de requisitos de natureza fiscal. O facto de apenas as IPSS, o Estado e as ONG sem fins lucrativos beneficiarem de isenção de IVA acaba por penalizar as empresas. A revisão dos limites associados ao volume anual de vendas das empresas, para efeitos da majoração em sede de IRC dos custos com donativos prevista no Regime do Mecenato, é um dos caminhos que a APED defende. Aliás, a APED apresentou ao Governo e a alguns dos Grupos Parlamentares uma proposta para revisão do enquadramento fiscal aplicável às doações de excedentes alimentares, que esperamos que possa ser refletida no Orçamento do Estado para 2026. Impõe-se, mais do que nunca, desonerar a generosidade.
4.- A APED tem vindo a trabalhar em rede com vários parceiros – desde empresas de retalho a associações e instituições de solidariedade social. Que importância tem esta articulação multissetorial para alcançar resultados concretos?
A APED defende que a ação coletiva é essencial para transformar intenções em resultados concretos e sustentáveis. Através deste trabalho em rede é possível combinar competências, recursos e perspetivas complementares, criando um efeito multiplicador difícil de alcançar de forma isolada. Além disso, a diversidade de experiências e áreas de atuação favorece a inovação, permitindo desenvolver soluções criativas e sustentáveis para desafios sociais e ambientais complexos.
Quando empresas, organizações e sociedade civil se unem em torno de objetivos comuns, os resultados obtidos são mais robustos, abrangentes e capazes de produzir um impacto real e duradouro. Para um desígnio tão complexo como a sustentabilidade, a chave do sucesso reside, precisamente, nesta abordagem colaborativa.
5.- Como vê a colaboração com a Too Good To Go no contexto desta missão? Que valor acrescenta ao esforço coletivo do setor?
A Too Good To Go tem desenvolvido um trabalho importante no âmbito do combate ao desperdício alimentar, ajudando os consumidores a adquirir produtos com uma excelente relação qualidade/preço.
Soluções como o Surprise Bag contribuem em grande escala para a redução do desperdício alimentar, oferecendo também algumas vantagens fiscais para os operadores. A rentabilização das quebras, sobretudo de produtos perecíveis, tem um impacto positivo tanto para o negócio como para o planeta, constituindo, ao mesmo tempo, uma oportunidade para dar a conhecer as lojas a novos clientes.
6.- A 1.ª Jornada para a Promoção da Redução do Desperdício Alimentar, coorganizada pela APED e pela Too Good To Go, reuniu diferentes agentes do setor e permitiu debater os pilares estratégicos para o futuro. Que balanço fazem desta iniciativa e que pilares destacariam, nomeadamente no que se refere à sensibilização de consumidores e empresas?
A 1.ª Jornada para a Promoção da Redução do Desperdício Alimentar foi, sem dúvida, importante na discussão sobre soluções mais eficazes para combate ao desperdício alimentar, um tema que preocupa profundamente a APED e os seus Associados. Foi gratificante constatar o empenho e a contribuição de todos para este objetivo comum e tão relevante.
Em termos de pilares estratégicos, destacaria, novamente, a ação coletiva. O desperdício alimentar é um desafio conjunto que exige uma intervenção coordenada, na qual todos desempenhamos um papel fundamental para avançar em direção a um futuro mais sustentável.
7.- Olhando para os próximos anos, que principais desafios e oportunidades identifica para o setor da distribuição no combate ao desperdício alimentar?
Destacaria a consciencialização do consumidor, que considero ser simultaneamente um desafio e uma oportunidade. Trata-se de um desafio porque, de acordo com estudos europeus, o consumidor doméstico é responsável por cerca de 42% do desperdício alimentar global, grande parte do qual poderia ser evitada. Um dos fatores que mais contribuem para este fenómeno é a falta de conhecimento adequado sobre o significado das datas de validade dos produtos. Inquéritos já revelaram que estas indicações nem sempre são corretamente interpretadas: apenas 47% dos cidadãos da União Europeia entende o significado de “consumir de preferência antes de” e só 40% compreende o de “consumir até”. Foi precisamente aqui que a APED identificou uma oportunidade.
Com as ferramentas e o conhecimento certos, podemos reverter esta realidade e contribuir de forma significativa para o combate ao desperdício alimentar. Com esta consciência, lançámos uma campanha informativa com o objetivo de ajudar os consumidores a interpretar corretamente as indicações de validade nos rótulos dos alimentos. Com o apoio institucional da Comissão Nacional de Combate ao Desperdício Alimentar e do Movimento Unidos Contra o Desperdício – do qual a APED é membro fundador –, a campanha aposta num tom pedagógico e explica como distinguir os diferentes prazos de validade, promovendo um consumo mais eficiente e evitando, assim, o desperdício.
É um caminho que já iniciámos, mas reconhecemos que ainda há muito a fazer. Neste âmbito, reforço, uma vez mais, que a ação coletiva é fundamental.
8.- Para terminar, se tivesse de deixar uma mensagem às empresas associadas da APED e à sociedade em geral sobre o desperdício alimentar, qual seria?
O desperdício alimentar é um desafio global que exige a colaboração de todos. Cada alimento que se perde representa recursos desperdiçados e oportunidades sociais não concretizadas. O setor do Retalho e da Distribuição assume o compromisso de reduzir este impacto, promovendo práticas responsáveis e incentivando os consumidores a integrarem esta mudança. Unidos, podemos transformar a forma como produzimos, distribuímos e consumimos, garantindo um futuro mais sustentável e solidário.
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